sábado, 6 de outubro de 2012

RESUMO HISTÓRICO - MEDIUNIDADE NA BÍBLIA



A faculdade mediúnica, tanto a natural como a de prova, não é fenômeno
de nossos dias, destes dias nos quais o Espiritismo encontrou seu clímax mas,
sempre existiu, desde quando existe o homem. Sim, porque foi muito por meio
dela que os Espíritos diretores puderam interferir na evolução do mundo
orientando-o, guiando-o, protegendo-o.
Vindo conviver com os homens ou dando-lhes, pela mediunidade, as
inspirações e os ensinamentos necessários, foram sempre eles, esses guias
devotados e solícitos, elementos decisivos dessa evolução. E, coisa notável,
quanto à mediunidade, a faculdade quase não se modificou desde milênios;
manteve quase os mesmos aspectos; pouco variaram os fenômenos e as
manifestações, o que prova ser muito lenta a ascensão espiritual do homem
neste terreno.
Se é verdade que, antigamente, o assunto não era bem conhecido e muito
menos generalizado, nem por isso deixou de ser admitido, estudado e utilizado
em benefício individual e coletivo.
Nas épocas em que a humanidade vivia no regime patriarcal, de dás ou de
tribos, a mediunidade era atribuída a poucos, que exerciam um verdadeiro
reinado espiritual sobre os demais.
Passou depois para os círculos fechados dos colégios sacerdotais, criando
castas privilegiadas de inspirados e, por fim, foi se difundindo entre o povo,
dando nascimento aos videntes, profetas, adivinhos e pitonisas que passaram,
por sua vez, a exercer inegável influência nos meios em que atuavam.
Na Índia como na Pérsia, no Egito, Grécia ou Roma, sempre foi utilizada
como fonte de poder e de dominação, e tão preciosa, que originou a
circunstância de somente ser concedida por meio de iniciação a poucos
indivíduos de determinadas seitas e fraternidades.
E ainda hoje verificamos a existência dessas seitas e fraternidades que
prometem a iniciação sob as mais rigorosas condições de mistério e
formalismo, se bem que com medíocres resultados, como é natural.
Somente após o advento do Espiritismo as práticas mediúnicas se
popularizaram e foram postas ao alcance de todos, sem restrições e sem
segredos.
A começar de Homero, o poeta lendário da Grécia antiga, que à
mediunidade se referia indiretamente ao narrar os episódios heróicos da vida
de Ulisses, podemos ver que muitos outros, como por exemplo Sócrates, que
possuía o que chamava de “demônios familiares”; Pitágoras, que era visitado
pelos deuses; Apolônio de Tiana, médium extraordinário de vidência e
levitação; Simão de Samaria, contemporâneo dos apóstolos, todos exerciam
mais ou menos publicamente a mediunidade.
E papel preponderante teve também ela na administração pública e na vida
política das nações de então, pois provado está que seus dirigentes (chefes e
reis), jamais se aventuravam a qualquer passo importante sem consulta prévia
a videntes, astrólogos e oráculos.
E, na própria Roma imperial, apesar de sua visceral amoralidade, os
césares não dispensavam essa consulta e submetiam-se de bom grado às
inspirações e aos conselhos dos “deuses”.
Ora, nós sabemos hoje o papel sobrelevante que os Espíritos do Senhor
desempenham no plano da vida material e no fenomenalismo cósmico e
compreendemos que eram então chamados demônios, deuses e gênios essas
entidades operosas e nem sempre benéficas que agiam, como sempre agem,
por de trás de todos os fenômenos naturais e sociais.
É por isso tão positiva e evidente a antigüidade das manifestações espíritas
que nos abalançamos a dizer que esta é, justamente, umas das maiores
provas de ser a doutrina espírita realidade de todos os tempos, base
fundamental de todas as religiões, mau grado as restrições que a deturparam
(3).
(3) Na China, por exemplo, a 3000 anos antes de Cristo o Espiritismo era
praticado: uma prancheta era usada, nas cerimônias mortuárias, para
receber as palavras do morto, dirigidas a seus descendentes. O culto dos
antepassados é fundamental na China, Japão e outros países orientais.
E, quanto ao cristianismo, valendo-nos de um conceito de Leon Denis —
“ele repousa sobre fatos de aparições e manifestações de mortos e fornece
imensas provas da existência do mundo invisível e das almas que o povoam”.
A Bíblia, ela mesma, está cheia de semelhantes manifestações, todas
obtidas por meio da mediunidade.
No Velho Testamento vemos os profetas, videntes e audientes inspirados,
que transmitem ao povo a vontade dos Guias e, de todas as formas de
mediunidade parece mesmo que a mais generalizada era a vidência.
Samuel no capítulo 9, versículo 9 — assim o demonstra quando diz:
“Dantes, quando se ia consultar a Deus dizia-se vamos ao vidente; porque os
que hoje se chamam profetas chamavam-se videntes”.
É já de rigor citativo a consulta feita por Saul ao Espírito de Samuel, na
gruta do Endor.
As pragas que, segundo se narra, por intermédio de Moisés, foram
lançadas sobre o Egito; as maravilhas ocorridas com o povo hebreu no deserto,
quando conduzido por esse grande Enviado, a saber; a labareda de fogo que
marchava à frente dos retirantes; o maná que os alimentava; as fontes que
jorravam recebimento do Decálogo, etc., tudo são afirmações, do extraordinário
poder mediúnico do grande fundador da nação judaica.
Que maior exemplo de fenômeno de incorporação que o revelado por
Jeremias — o profeta da paz — quando tomado pelo Espírito, pregava contra a
guerra aos exércitos de Nabucodonosor! E que outro maior de vidência no
tempo, que o demonstrado pôr João escrevendo o Apocalipse!
E como é notável de se observar que, nos remotos tempos do Velho
Testamento os fenômenos, em si mesmos, em quase nada diferiam, como
dissemos, dos atualmente observados por nós!
Basta citar os de transporte: Reis, capítulo 6,versículo 6; os de levitação:
Ezequiel, capítulo 3, versículos 14 e 15, e Atos, capítulo 8, versículos 39 e 40;
os de escrita direta: Êxodo, capítulo 32, versículos 15 e 16 e capítulo 34,
versículo 28.
E tão semelhantes eram as práticas antigas com as atuais que até mesmo
a música era empregada para a formação do ambiente. De fato vemos que o
profeta Eliseu reclamava “um tangedor” (harpista) para profetizar: 2º Reis 3, 15
— e muito vulgar é a citação da passagem em que David acalma e afasta os
Espíritos obsessores de Saul, tangendo sua harpa.
E a obscuridade era também, em muitos casos, exigida e Salomão, no ato
de consagrar o templo que edificara, declarou significativamente: “O Senhor
tem dito que habitaria nas trevas” 2ª epístola aos Coríntios, capítulo 6,
versículo 1 (4).
(4) Salmos 67 e 68 — Isaías, capítulo 32, versículos 3, 15 e 44 — Ezequiel,
capítulo 11, versículos 19, 36 e 37 — Joel, capítulo 2, versículo 28.
No Novo Testamento, desde antes do Nascimento então, as provas são
ainda mais concludentes e notáveis, máxime as de mediunidade curadora, o
dom das línguas, as levitações e os fenômenos luminosos.
Maria de Nazaré não viu o Espírito anunciador? Jesus não foi gerado com
intervenção do Espírito Santo? E os milagres seus e dos apóstolos?
Voltando a citar Leon Denis, é dele esta pergunta: os apóstolos de Cristo
foram escolhidos por serem sábios ou notáveis ou porque possuíam qualidades
mediúnicas ?“
Esses apóstolos, como sabemos, e seus discípulos, durante o tempo de
seus trabalhos, atuaram como verdadeiros médiuns, bastando citar São Paulo
e São João, um o mais dinâmico e culto, outro o mais místico.
E justamente por exercerem francamente a mediunidade é que sabiam de
seus perigos, dos cuidados que sua prática exigia e sobre isso constantemente
chamavam a atenção de seus discípulos (5).
(5) João, capítulo 14, versículos 16, 17 e 26 — Atos, capítulo 1, versículos
2, 3, 5, 8, 9, 10, 11, 16. Capítulo 2, versículos 4, 38 e 39. Capítulo 4,
versículo 31. Capítulo 9, versículo 17. Capítulo 10, versículo 44. Capítulo
11, versículo 15. Capítulo 13, versículo 52. Capítulo 19, versículo 6.
Capítulo 20, versículo 23 — Romanos, Capítulo 5, versículos 5, 15 e 19 —
Coríntios 12.
São Paulo dizia: “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas”; e
São João ajuntava: “Caríssimos, não creiais em todos os espíritos mas provai
que os espíritos são de Deus”. Advertiam, assim, contra a ação do espíritos
obsessores e mistificadores.
Era tão comum a mediunidade entre os primitivos cristãos que instruções
escritas eram enviadas às comunidades das diferentes cidades para regular a
sua prática; e essas instruções foram sendo, com o correr do tempo,
enfeixadas em livros para melhor conservação.
Hermas, que evangelizou no tempo de São Paulo adquirindo grande e justa
autoridade, em seu livro “O Pastor” dizia: — “O espírito que vem da parte de
Deus é pacífico e humilde; afasta-se de toda a malícia e de todo vão desejo
deste mundo e paira acima de todos os homens. Não responde a todos que o
interrogam nem às pessoas em particular porque o espírito que vem de Deus
não fala ao homem quando o homem quer, mas quando Deus o permite.
Quando, pois, um homem que tem o espírito de Deus, vem à assembléia dos
fiéis, desde que se fez a prece, o espírito toma lugar nesse homem que fala na
assembléia como Deus o quer. Reconhece-se ao contrário o espírito terrestre,
frívolo, sem sabedoria e sem fôrça, no que se agita, se levanta e toma o
primeiro lugar. É importuno, tagarela e não profetiza sem remuneração. Um
profeta de Deus não procede assim”.
— Estas instruções, dadas há séculos, como se vê, continuam com plena
oportunidade ainda hoje, até mesmo no que se refere à ganância de alguns e à
vaidade de muitos.
* * *
Essas manifestações de mediunidade pública continuaram a se dar até
quando foi possível porque, à medida que o cristianismo foi-se transformando
em religião oficial foi perdendo sua espiritualidade e ganhando caráter
mundano; e a partir do concilio de Nicéa, em 325, formaram-se duas correntes
opostas, uma querendo permanecer no cristianismo primitivo e outra se
esforçando por progredir no mundo dos homens. A partir daí a Igreja mais tarde
 esquecendo, por seus continuadores, três séculos
de vida exemplar e repudiando os ensinamentos do Mestre no seu verdadeiro
sentido, consorciou-se com as fôrças do mal para obter, como obteve, o
domínio do mundo pelo poder temporal.
Essa igreja, tornada então toda poderosa pela oficialização que lhe
outorgou Constantino, declarou que a mediunidade era ilegal, herética, obra de
magia, obra demoníaca e entrou, em consequência, a mover-lhe sistemática
perseguição.
Renegou todos os atos mediúnicos praticados por Jesus e seus discípulos
— que os fariseus do Sinédrio, já a seu tempo, taxavam de práticas do
demônio—e nisso foi coerente consigo mesma porque, tendo criado o seu
sistema fechado de dogmas obscurantistas e privilégios sacerdotais, verificou
que o exercício público da mediunidade viria derruir, solapar pela base o
edifício material que estava laboriosa e ardilosamente construindo para consolidar
seu poderio avassalador.
Apesar dos testemunhos e dos protestos apresentados sincera e
honestamente por vários de seus próprios luminares, como São Gregório de
Nissa, S. Clemente de Alexandria, São Thomaz de Aquino, Santo Agostinho e
outros, que admitiam e praticavam o mediunismo, não voltou atrás e durante
séculos procurou, como até hoje procura, frear o pensamento e o espírito de
compreensão dos fenômenos mediúnicos, perseverando nos propósitos
iniciais.
Criou assim uma época muito extensa de obscurantismo, durante a qual
tudo foi empregado para destruir a revelação divina: o ódio, a vingança, a
perseguição e a morte pelo ferro; pelo fogo, pelo veneno, pela espada.
A Idade Média foi o período perfeito dessa verdadeira noite espiritual.
Como consequência dessa situação de terror oficializado, os círculos que
cultivavam a espiritualidade pura foram se fechando, se restringindo,
desaparecendo e a palavra da Verdade somente podia ser transmitida em
segredo, de boca para ouvido, em sussurros débeis, numa forma tal que,
realmente, nunca mais pôde ser derramada livremente em grande parte do
mundo.
Até mesmo nos rituais das igrejas encontrava-se esta oração de recitação
obrigatória: “Afugentai, Senhor, todos os espíritos malignos, todos os
fantasmas e todos os espíritos que batem”.
* * *
Ora, com o evolver das coisas e como era natural, todos aqueles, de
espírito não fanatizado e mais liberal, amantes do progresso, não encontrando,
nesses cultos assim organizados, nada que lhes satisfizesse a razão e os
sentimentos, descambaram para o materialismo e, à obscuridade do fanatismo
sucedeu a da descrença.
A ciência estava tomando pé e tentando quebrar os jugos que a
escravizaram até então e o mundo precisava mesmo de uma renovação para
caminhar em melhores condições.
Surgiram nessa época as filosofias naturalistas, realistas, baseadas na
Razão, a cuja frente se puseram os chamados enciclopedistas, que produziram
uma verdadeira revolução no pensamento; e solapado então por essas novas
concepções teorísticas, o mundo entrou a sofrer abalos profundos que, em
breve, degeneraram em tremenda convulsão social precursora, como sempre
acontece, de acelerado movimento evolutivo.
Ao terror do fanatismo religioso sucedeu o da vingança popular
desenfreada e, no cadinho daquela dura provação, os destinos do mundo
entraram de novo a ser fundidos.
E foi então que os Espíritos Diretores tiveram de intervir novamente para
orientar o movimento e impedir que as paixões desencadeadas ultrapassassem
os limites permitidos, prejudicando o progresso geral ou retardando-o
demasiadamente.
Entraram a agir de forma enérgica e positiva lançando em campo os
elementos já de antemão preparados e dispostos nos setores mais
convenientes.
Isso sucedeu no século findo, bem nos nossos dias e em diferentes lugares
ao mesmo tempo mas, notadamente, na América do Norte, onde fenômenos
objetivos e por si mesmos impressionantes se revelaram, chamando a atenção
do mundo.
É verdade que ao tumulto causado pela explosão das massas
o Positivismo viera trazer uma certa derivação, metodizando o pensamento e
orientando o raciocínio no sentido da justiça e da moral, mas, o que os Guias
queriam era focalizar o aspecto nitidamente espiritual da vida, sobrelevante do
material ou especulativo para os quais, no momento, todas as fôrças vivas do
homem se inclinavam.
E isso eles o conseguiram eficientemente porque o interesse despertado
por essas manifestações do chamado sobrenatural, foi considerável; todas as
classes intelectuais se movimentaram e a sábios de indiscutível autoridade foi
cometida a incumbência de examinar o assunto à luz da ciência
contemporânea.
E então, para facilitar esse exame, os Espíritos Diretores determinaram o
aparecimento de médiuns de ampla capacidade, com o que visavam também
concorrer para que tais trabalhos resultassem concludentes e categóricos.
Esses médiuns que eram, realmente, excepcionais, submeteram-se a toda
espécie de controle e os relatórios firmados por comissões científicas da
América, Inglaterra, França, Itália e Alemanha, foram acordes em reconhecer
que a vida realmente continuava além do túmulo e que era inegável o
intercâmbio entre vivos e mortos.
Essa foi a missão de Kardec — o Codificador — e dos notáveis espíritos de
Crookes, Ochorowiez, Du Prel, Lombroso, Myers, Steed, Flamarion, Leon
Denis, Aksakof, Notzing, seguidos logo de Lodge, Richet, Doyle, Geley,
Bozzano e Delane, para citar somente os mais conhecidos.
E assim, com o auxílio desses sábios, foi posto freio ao materialismo
dominante, dada nova orientação ao pensamento religioso e a verdade é que,
até hoje, o impulso dado naquela época vem crescendo de vulto e velocidade
produzindo um triplo resultado: a derrota. do materialismo estéril, a destruição
do fanatismo religioso medieval e a implantação dos fundamentos da
verdadeira espiritualidade.
O mundo desde então evoluiu mais depressa, numa fermentação interior e
silenciosa, cujos efeitos sentiremos em tempos muito próximos, no remate
deste fim de século com o advento do terceiro milênio.
Os cientistas e os médiuns foram, inegavelmente, os artífices materiais
dessa grande vitória.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Senhor, fazei de nós instrumentos da Vossa Paz