sábado, 23 de fevereiro de 2013

DOS FRACASSOS E DAS QUEDAS


Das cidades, colônias e demais núcleos espirituais do Espaço
constantemente partem, com destino à Terra, trabalhadores que pediram ou
receberam, como dádivas do Alto, tarefas de serviço ou de resgate, no campo
nobilitante da mediunidade.

Um complexo e delicado trabalho preparatório é realizado ‘pelos protetores
espirituais para oferecer-lhes aqui condições favoráveis à execução das tarefas ajustadas: corpo físico, ambiente doméstico, meio social, recursos materiais etc., e isso além dos exaustivos esforços que envidam para o desenvolvimento regular do processo da encarnação propriamente dita: (defesa, formação do feto, etc...).

Dado porém o nascimento, transcorrida a infância e a juventude quando,
enfim, soam no seu íntimo e ao seu redor, os primeiros chamamentos para o
trabalho edificante, eis que, muitas vezes, ou quase sempre, a trama do mundo já os envolveu de tal forma que se tomam surdos e cegos, rebeldes ao convite, negligentes ao compromisso, negativos para o esfôrço redentor.

Deixam-se dominar pelas tentações da matéria grosseira, aferram-se ao
que é transitório e enganoso e, na maioria dos casos, somente ao guante da
dor e a poder de insistentes interferências punitivas, volvem seus passos,
relutantemente, para o caminho sacrificial do testemunho.

Não consideram, desde logo, que ninguém desce a um mundo de expiação
como este para usufruir repouso ou bem-estar, mas sim e unicamente para
lutar pela própria redenção, vencendo os obstáculos inumeráveis que a cada
passo surgem, ‘vindos de muitas direções.

Os dirigentes das instituições assistenciais ou educativas do Espaço têm
constatado como regra geral que poucos, muito poucos médiuns triunfam nas
tarefas e que a maioria fracassa lamentavelmente, apesar do auxílio e da
assistência constantes que recebem dos planos invisíveis; e esclarecem
também que a causas gerais desses fracassos são: a ausência da noção de
responsabilidade própria e a falta de recordação dos compromissos assumidos
antes da reencarnação.

Ora, se o esquecimento do passado é uma contingência, porém
necessária, da vida encarnada de todos os homens, ela não é, todavia,
absoluta, mormente em relação aos médiuns, porque os protetores,
constantemente e com desvelada insistência, lhes fazem advertências nesse
sentido, relembrando seus deveres; muito antes que o momento do
testemunho chegue, já eles estão advertindo por mil modos, desenvolvendo no médium em perspectiva, noções bem claras de sua responsabilidade pessoal e funcional.

Por isso, das causas apontadas acima, somente julgamos ponderável a
falta de noção de responsabilidade porque, se essa noção existisse, os
médiuns desde logo se dedicariam à tarefa, devotadamente.

Isso, é lógico, tratando-se de médiuns estudiosos, que se preocupam com
a obtenção de conhecimentos doutrinários porque, para os demais, à
irresponsabilidade acresce a ignorância e a má vontade.

E essa noção de irresponsabilidade é tão ampla que muitos médiuns,
mormente aqueles que o orgulho pessoal ou as ambições do mundo dominam,
maldizem a posse das faculdades que possuem, como se fossem estorvos; e
outros, há, menos radicais mas não menos desorientados, que lastimam não
serem inconscientes, para poderem então exercê-las à revelia de si mesmos.

Quão poucos, os esclarecidos e lúcidos, que se prosternam e,
humildemente, clamam: Bendito sejas, ó Senhor, que me haveis concedido tão excelente e poderosa ferramenta de serviço redentor! Graças Senhor, por me haverdes separado para o trabalho da tua vinha.

AS QUEDAS

As quedas são mais comuns nos degraus inferiores da escada evolutiva e
tanto mais dolorosas e profundas se tornam quanto maior for o cabedal próprio de conhecimentos espirituais adquiridos pelo Espírito.

“Estado de evolução” e “estado” de queda” são duas condições de caráter
 geral, em que se encontram os Espíritos nas fases inferiores da ascese.

Essas são as condições que dominam no umbral que, como sabemos, é
uma esfera de vida purgatorial, bem como nos planos que lhe são, até um certo ponto, e de um certo modo, imediatamente acima. Quando porém as quedas se acentuam devido a reincidências de transgressões, elas levam os culposos às Trevas, esfera mais profunda, de provas mais acerbas, situada abaixo da Crosta.

Entretanto em qualquer tempo ou situação o Espírito culposo pode retomar
a evolução, voltando à ascese, desde que reconsidere, arrependa-se e se
disponha ao esfôrço reabilitador.

A misericórdia divina cobre a multidão dos pecados e dá ao pecador
incessantes e renovadas oportunidades de redenção. A redenção, pois, não é
um acontecimento extraordinário, um ato de “juízo final” mas sim a manifestação da misericórdia de Deus em muitas oportunidades, no transcurso
do esforço evolutivo.

Mas, perguntarão: o fracasso, na tarefa mediúnica, não sendo reincidente,
lança o médium primário no estado de queda?
Não, desde que ele, no exercício das faculdades próprias, não tenha cometido
crimes contra o Espírito. Esse fracasso primário traz ao médium uma parada na ascese evolutiva; fica ele em suspensão, aguardando nova oportunidade,
temporariamente inativo, dependendo de nova tarefa redentora, que lhe será
ou não concedida conforme as circunstâncias do fracasso: negligência, vaidade
cupidez etc.

Mas lançá-lo-á na queda se praticou o mal conscientemente; se permitiu
que suas faculdades fossem utilizadas pelos representantes das fôrças do mal; se orientou seu próximo por maus caminhos, lhe destruiu no espírito a semente redentora da Fé, ou lhe perverteu os sentimentos fazendo-o regredir à animalidade; enfim se deturpou a Verdade e lançou seu próximo ou a si mesmo no caminho do erro e da iniquidade.

Há uma lei invariável que preside a este assunto: quando o médium se
dedica à tarefa em comunhão com os Espíritos do bem, está em estado de
evolução; quando, ao contrário, a despreza ou, por mau procedimento, dá
causa ao afastamento desses Espíritos, cai então sob a influência dos Espíritos do mal e entra em estado de queda.

A esse respeito diz André Luiz: “No campo da vida espiritual, cada serviço
nobre recebe o salário que lhe diz respeito e cada aventura menos digna tem o preço que lhe corresponde.”

E prossegue:

“Mediação entre dois planos diferentes sem elevação de nível moral é
estagnação na inutilidade”.
“O Pensamento é tão significativo na mediunidade, quanto o leito é
importante para o rio”.
“Ponde águas puras sobre um leito de lama pútrida e não tereis senão a
escura corrente da viciação.”

E mais: “Jesus espera a formação de mensageiros humanos capazes de
projetar no mundo as maravilhas do seu Reino”.

Texto extraído do Livro : "MEDIUNIDADE" de Edgard Armond

Senhor, fazei de nós instrumentos da Vossa Paz