domingo, 30 de junho de 2013

Pensamentos e Desequilíbrios


"FORMAS-PENSAMENTO"




Por Maísa Intelisano

Para começar, vamos separar algumas coisas. Larvas astrais, vibriões psíquicos e aparelhos astrais são, todos, formas-pensamento. Já ovóides não são formas-pensamento, mas consciências que tomaram a forma oval por motivos que vamos explicar em outro tópico.

Qual a diferença e por que fazer essa diferenciação? Porque explicando formas-pensamento já teremos facilitado bastante as coisas e andado metade do caminho.

Formas-pensamento são criações mentais modeladas em matéria fluídica ou matéria astral. Podem ser criadas por encarnados e desencarnados com características boas ou ruins, positivas ou negativas. Como o próprio nome diz, elas são resultado da ação da mente sobre as energias mais sutis que estão à nossa volta, criando formas correspondentes ao pensamento externado.

As energias que nos rodeiam são altamente plásticas e sensíveis à ação das ondas mentais. Quando pensamos, as vibrações que emitimos atuam sobre essas energias, condensando ou dispersando-as, dando-lhes formas, cores e brilhos que correspondem à natureza e à essência do que pensamos. Se o pensamento é passageiro, muitas vezes nem chega a criar nada, ou, se cria, a forma não se mantém, pois não é realimentada. No entanto, se o pensamento é persistente, revivido continuamente por imagens mentais, a forma criada se estabelece, ficando cada vez mais forte.

Se for uma forma-pensamento positiva, sadia, elevada, ela se alimentará dos pensamentos e sentimentos positivos do seu criador, ao mesmo tempo em que o abastecerá de bons fluidos agregados, por sintonia, de outras mentes e formas-pensamento de mesmo teor. Se, no entanto, se trata de uma forma-pensamento negativa, densa, doentia, ela também se alimentará dos pensamentos do seu criador, levando-o a intensificar cada vez mais a mesma ideia e projetando sobre ele todos os fluidos com que tenha sintonia, até que o emissor não consiga mais se desvencilhar de sua própria criação. Sua mente passa, então, a ser preenchida apenas por aquela ideia, num círculo vicioso.

É assim que muitos processos de obsessão começam, com formas-pensamento criadas e mantidas pela própria pessoa, já que muitos obsessores se aproveitam dessas criações, manipulando-as para assustar, atormentar e drenar as energias das pessoas que são os seus alvos.

É importante observar também que formas-pensamento podem ser "incorporadas" por médiuns, como se fossem espíritos. A diferença é que, como não são consciências e não têm mente, ou seja, não são individualidades, não são capazes de se comunicar de forma lógica, mas podem ser acopladas aos médiuns, à sua aura e ao seu períspirito, para drenagem de energias e consequente desintegração da forma, desligando-a de outras consciências encarnadas e desencarnadas.

Essas são muitas das manifestações que acontecem nos grupos de desobsessão em que não há diálogo, mas se nota um enfraquecimento gradativo do fenômeno, como se a "entidade" estivesse, literalmente, derretendo, desmanchando-se, para logo deixar o corpo do médium.

Para entender melhor o assunto formas-pensamento, ler o livro Formas de Pensamento, de Annie Besant e Charles W. Leadbeater.

LARVAS ASTRAIS E VIBRIÕES PSÍQUICOS

Segundo o Dicionário Houaiss, "vibrião" é a designação comum às bactérias móveis em forma de bastonetes. E larva vem do latim larvae, que significa máscara, boneco, espantalho, demônio, espectro que se apodera das pessoas. Entre os antigos romanos, a palavra larva designava o espectro ou fantasma de pessoa que teve morte violenta ou de criminoso que se supunha vagar entre os vivos para atormentá-los.

Já em Zoologia, passou a designar o estágio imaturo, pós-embrionário, de um animal, quando este difere sensivelmente do adulto, como os insetos, por exemplo, porque nesse estágio o animal estaria "mascarado", disfarçado.

Como vemos, portanto, larvas astrais ou vibriões psíquicos são formas-pensamento semelhantes a micróbios físicos, criados pela viciação mental e/ou emocional da consciência, em atitudes, pensamentos e sentimentos desequilibrados. Vejamos algumas descrições de André Luiz, no capítulo 3 do livro Missionários da Luz, ao examinar mais de perto alguns candidatos ao desenvolvimento mediúnico:

"Fiquei estupefato. As glândulas geradoras emitiam fraquíssima luminosidade, que parecia abafada por aluviões de corpúsculos negros, a se caracterizarem por espantosa mobilidade. Começavam a movimentação sob a bexiga urinária e vibraram ao longo de todo o cordão espermático, formando colônias compactas nas vesículas seminais, na próstata, nas massas moncosas uretrais, invadiam os canais seminíferos e lutavam com as células sexuais, aniquilando-as. As mais vigorosas daquelas feras microscópicas situavam-se no epidídimo, onde absorviam, famélicas, os embriões delicados da vida orgânica. Estava assombrado .... Seriam expressões mal conhecidas da sífilis?"

Ao que o instrutor ALEXANDRE responde: "Não, André. Não temos sob os olhos o espiroqueta de Schaudinn, nem qualquer nova forma suscetível de análise material por bacteriologistas humanos. São bacilos psíquicos da tortura sexual, produzidos pela sede febril de prazeres inferiores. O dicionário médico do mundo não os conhece e, na ausência de terminologia adequada aos seus conhecimentos, chamemos-lhes larvas, simplesmente".

"Têm sido cultivados por este companheiro, não só pela incontinência no domínio das emoções próprias, através de experiências sexuais variadas, senão também pelo contato com entidades grosseiras, que se afinam com as predileções dele, entidades que o visitam com freqüência, à maneira de imperceptíveis vampiros".

Observando outro candidato habituado a ingerir álcool em excesso, André Luiz nos dá a seguinte descrição: "Espantava-me o fígado enorme. Pequeninas figuras horripilantes postavam-se, vorazes, ao longo da veia aorta, lutando desesperadamente com os elementos sangüíneos mais novos. Toda a estrutura do órgão se mantinha alterada."

Ainda no mesmo capítulo, ele examina também uma mulher com distúrbios alimentares e diz: "Em grande zona do ventre superlotado de alimentação, viam-se muitos parasitas conhecidos, mas, além deles, divisava outros corpúsculos semelhantes a lesmas voracíssimas, que se agrupavam em grandes colônias, desde os músculos e as fibras do estômago até a válvula ileocecal. Semelhante parasita atacava os sucos nutritivos, com assombroso potencial de destruição."

Para entender como surgem as larvas astrais, vamos continuar com o que diz o instrutor Alexandre a André Luiz, no capítulo 4 do livro Missionários da Luz: "Você não ignora que, no círculo das enfermidades terrestres, cada espécie de micróbio tem o seu ambiente preferido. ( ... )Acredita você que semelhantes formações microscópicas se circunscrevem à carne transitória? Não sabe que o macrocosmo está repleto de surpresas em suas formas variadas? No campo infinitesimal, as revelações obedecem à mesma ordem surpreendente.

André, meu amigo, as doenças psíquicas são muito mais deploráveis. A patogênese da alma está dividida em quadros dolorosos. A cólera, a intemperança, os desvarios do sexo, as viciações de vários matizes, formam criações inferiores que afetam profundamente a vida íntima. Quase sempre o corpo doente assinala a mente enfermiça. A organização fisiológica, segundo conhecemos no campo das cogitações terrestres, não vai além do vaso de barro, dentro do molde preexistente do corpo espiritual. Atingido o molde em sua estrutura pelos golpes das vibrações inferiores, o vaso refletirá imediatamente."

Ainda no mesmo capítulo, Alexandre continua: "Primeiramente a semeadura, depois a colheita. Não tenha dúvida. Nas moléstias da alma, como nas enfermidades do corpo físico, antes da afecção existe o ambiente. As ações produzem efeitos, os sentimentos geram criações, os pensamentos dão origem a formas e conseqüências de infinitas expresssões. E, em virtude de cada Espírito representar um universo por si, cada um de nós é responsável pela emissão das forças que lança em circulação nas correntes da vida. A cólera, a desesperação, o ódio e o vício oferecem campo a perigosos germens psíquicos na esfera da alma. E, qual acontece no terreno das enfermidades do corpo, o contágio aqui é fato consumado, desde que a imprevidência ou a necessidade de luta estabeleça ambiente propício, entre companheiros do mesmo nível. ( ... ) Cada viciação particular da personalidade produz as formas sombrias que lhe são conseqüentes, e estas, como as plantas inferiores que se alastram no solo, por relaxamento do responsável, são extensivas às regiões próximas, onde não prevalece o espírito de vigilância e defesa".

Como vemos, as larvas astrais surgem dos excessos e desequilíbrios físicos, emocionais e espirituais de toda sorte, da repetição contínua de uma mesma conduta, física e/ou mental, o que causa o acúmulo de energias mais densas em determinadas regiões do organismo, as quais se organizam na forma de colônias de microrganismos astrais.

As conseqüências são as mais variadas, podendo ir desde problemas físicos, graves ou não, até perturbações espirituais, que, se não combatidas a tempo, podem se transformar em sérios distúrbios psíquicos, acarretando sérias complicações para o encarnado, nesta vida e nas próximas. Larvas astrais são bastante "aderentes" e se multiplicam com muita facilidade, bastando para isso que se Ihes ofereçam as mínimas condições mentais e energéticas.

Dependendo da extensão do problema, serão necessárias muitas aplicações energéticas para limpeza, desinfecção e rearmonização da região afetada, o que pode exigir a atuação de vários aplicadores, em várias sessões, para que essas colônias sejam enfraquecidas e não possam mais se expandir, vindo a desaparecer.

Mas, como em qualquer tratamento físico, a colaboração do "paciente" é imprescindível, uma vez que essas larvas são criadas e alimentadas pelas energias geradas por seus próprios pensamentos e sentimentos. Assim, além das aplicações energéticas, é necessário que se oriente e conscientize a pessoa sobre como e por que mudar seus hábitos mentais e suas atitudes, garantindo que ela mesma não mais oferecerá condições para que essas larvas se instalem e espalhem.

Se larvas astrais são criações mentais, geradas a partir de pensamentos e sentimentos desequilibrados, também aqui a prevenção se faz pelo equilíbrio e o controle do que pensamos e sentimos. Não há ouutro meio. Como já dito muitas vezes, sintonia é a "alma" do universo. Tudo funciona segundo suas leis e só viveremos com aquilo que nós mesmos criarmos ou atrairmos a partir do que geramos dentro de nós.

OVÓIDES
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Parasitas ovóides são, como diz o dr. Ricardo Di Bernardi, "espíritos humanos que, pela manutenção de uma idéia fixa e doentia (monoideísmo), acabam estabelecendo uma vibração de baixa freqüência e comprimento de onda longo que, com o passar do tempo, produz uma deformação progressiva no seu corpo espiritual".

Ovóides são, portanto, espíritos em estado tão profundo de perturbação que perderam a consciência de sua natureza humana, perdendo também a forma humana de seu perispírito.

Portanto, não perdem o perispírito, não se manifestam apenas em corpo mental, mas estão com o perispírito (ou corpo espiritual, ou psicossoma) tão deformado que este não tem mais a forma humana, apenas uma forma ovalada.

Di Bernardi diz ainda que se trata "de um monoideísmo auto-hipnotizante. Ele vibra de forma contínua e constante, de maneira desequilibrada, gerando uma energia que gira sempre de maneira igual e repetida pelo mesmo pensamento desequilibrado. Ao vibrar repetidamente na mesma freqüência e em desequilíbrio com a Lei Cósmica Universal, gera este circuito arredondado que o vai deformando e tornando-o ovóide".

Assim, a insistência do espírito em, por auto-hipnose, reviver pensamentos e sentimentos negativos, geralmente de apego, remorso e vingança, faz com que perca a noção de tempo e espaço, e se deforme, aos poucos, atrofiando, por falta de função, os órgãos do psicossoma, assumindo a forma do círculo vicioso em que vive mentalmente.

Quando uma pessoa entra em estado vegetativo com o seu corpo físico, não tem mais a capacidade de se manifestar com ele, mas não o perde; o corpo continua vivo, embora inerte.

No caso do ovóide e do psicossoma é a mesma coisa. Por isso, não podemos falar em segunda morte, como querem alguns, assim como o estado vegetativo do corpo físico ainda não é a primeira morte, embora possa estar em vias de ser.

Ou seja, o perispírito entra numa espécie de estado vegetativo, mas não se desintegra ou desaparece. O ovóide não o perde. É justamente o perispírito, aliás, que fica ovalado.

Ainda segundo Di Bernardi, esse processo de se tornar ovóide ocorre porque o "psicossoma também é composto de moléculas, tal como o corpo físico. Por analogia, imaginemos as moléculas do corpo astral como as moléculas dos gases: elas são maleáveis e se modificam ao sabor da pressão, da temperatura e até do recipiente que as contém. As moléculas do perispírito são moldáveis pelo pensamento e pelo sentimento, tomam formas, de acordo com a vibração do espirito. Assim, se tornam brilhantes, opacas, densas ou leves".

Quando esses ovóides se ligam a uma consciência, encarnada ou desencarnada, em especial, fica caracterizado então o processo obsessivo por parasita ovóide.

Nesse caso, a massa fluidica em que se transformou o perispirito do desencarnado envolve sutilmente seu alvo e, depois, liga-se ou cola-se ao seu corpo físico ou astral, distorcendo-lhe idéias, pensamentos, opiniões e atitudes.

O ovóide só é incapaz de manipular energias, locomover-se e interagir conscientemente, de livre e espontânea vontade, mas pode fazê-lo no automático, pelo instinnto, atraído pela sintonia. E para isso precisa do psicossoma, ainda que em estado precário, assim como mantemos funções básicas automáticas como respirar, urinar e defecar, mesmo em estado vegetativo do corpo físico.

O ovóide pode chegar a aura de alguém somente pela atração que essa pessoa exerce sobre ele. Nada mais é necessário como ponte. Basta a sintonia entre os dois. Como ímãs.

Além da influência psicológica, os parasitas ovóides agem também drenando energias do obsidiado, podendo levá-lo até ao desencarne, caso seja encarnado.

No entanto, é importante notar que, como em qualquer processo obsessivo, a ligação do parasita ovóide com sua "vítima" nunca acontece sem a anuência ou permissão da própria vítima, ainda que inconsciente, pelo hábito de cultivar pensamentos de remorso, ódio, egoísmo, desejo de vingança, apego excessivo a coisas e pessoas etc.

Os ovóides também podem ser hipnotizados por outras consciências e não só auto-hipnotizados, infelizmente. Existem espíritos que têm profundos conhecimentos de hipnose e usam esse conhecimento para manipular a mente de outros desencarnados, transformando-os em ovóides e alojando-os na aura ou no perispírito de encarnados que querem prejudicar. Isso, infelizmente, é mais comum do que se pensa.

Quanto aos ovóides que alguns chamam de benéficos, creio que não poderíamos chamar de "ovóides", pois não são espíritos que estejam sofrendo de monoideísmo, mas provavelmente espíritos num grau tal de evolução e luz que se manifestam sem o perispírito, exclusivamente com seu corpo mental, o qual não tem forma humana e se apresenta para nós, que estam os limitados pela percepção tridimensional, como bolas de luz, dando a impressão de que seriam ovóides luminosos.

Nesse caso, eles não estão confinados a um círculo vicioso por terem se auto-hipnotizado numa única idéia. É justamente o contrário. Eles expandiram tanto seus horizontes espirituais, que prescindem da forma humana e do perispírito para se manifestar, e se apresentam apenas em seu corpo mental.

- Revista Espiritismo e Ciência-
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"Luz, Amor e Paz a todos"-Renata Mendes. — com Márcia Pontes, Pedro Rogerio Santana, Luz da Vida, Luz Da Existencia Kardecista, Espiritualidades Mensagens, Parnaso de Caridade, Anjos de Luz, Luciana A Mayrhofer O, A Caminho da Luz, Luz Do Caminho, Recanto Da Palavra Caridade, Núcleo De Estudos Espírita Joanna de Ângelis e Centro Espirita.

sábado, 4 de maio de 2013

ESTUDANDO A MEDIUNIDADE




1. Introdução

A mediunidade desempenha papel essencial no estabelecimento da base experimental da ciência espírita e nas atividades dos centros espíritas. Seu estudo sistemático e contínuo possibilita a correta compreensão tanto de sua natureza como de suas finalidades, habilitando-nos a dela obter seguros e produtivos resultados, com vistas ao nosso aperfeiçoamento intelectual e moral.

Esse estudo deve necessariamente estar centralizado no mais completo e profundo tratado que já se escreveu sobre a mediunidade: O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. Os presentes apontamentos devem ser tidos unicamente como uma exposição incompleta de alguns tópicos importantes, destinada a facilitar posteriores contatos com essa obra fundamental e a vasta literatura subsidiária surgida desde sua publicação, em 1861.

No Vocabulário Espírita que forma o capítulo 32 desse livro Kardec dá como sinônimos os termos mediunidade e medianimidade, definindo-os com "a faculdade dos médiuns". Quanto à palavra médium, Kardec explicita o seu significado em várias passagens de suas obras, como por exemplo nesse mesmo Vocabulário, onde se encontra esta definição sucinta:

MÉDIUM. (do latim, medium, meio, intermediário). Pessoa que pode servir de intermediário entre os Espíritos e os homens.

Ao analisar os conceitos de médium e de mediunidade, faz notar que a palavra médium comporta duas acepções distintas, expressas com clareza neste trecho da Revue Spirite:

Acepção ampla:

Qualquer pessoa apta a receber ou a transmitir comunicações dos Espíritos é, por isso mesmo, médium, quaisquer que sejam o modo empregado e o grau de desenvolvimento da faculdade, desde a simples influência oculta até à produção dos mais insólitos fenômenos.

Acepção restrita:

Em seu uso ordinário, todavia, esse termo tem uma aplicação mais restrita, aplicando-se às pessoas dotadas de um poder mediador suficientemente grande, seja para a produção de efeitos físicos, seja para transmitir o pensamento dos Espíritos pela escrita ou pela palavra.

Quando analisamos um texto ou um discurso onde o termo médium aparece, é importante reconhecer em qual desses sentidos está sendo empregado, a fim de se evitarem mal-entendidos e discussões sem fundamento. Assim, por exemplo, a afirmação feita no parágrafo 159 de O Livro dos Médiuns de que "todos [os homens] são quase médiuns" deverá ser entendida apenas na acepção ampla do termo, pois sabemos, pela questão 459 de O Livro dos Espíritos, que todos somos passíveis de receber a influência dos Espíritos, ainda que sob a forma sutil de intuição. Incorreremos em grave equívoco se concluirmos daí que todos somos mais ou menos médiuns no sentido restrito e usual da palavra, ou seja, se julgarmos que todos podemos produzir manifestações ostensivas, tais como a psicofonia, a psicografia, os efeitos físicos etc.

2. A natureza da mediunidade

Limitando-nos daqui para frente à acepção restrita do termo 'médium', que é a mais usual e relevante, estaremos, no que se vai seguir, entendendo a mediunidade como a aptidão especial que certas pessoas possuem para servir de meio de comunicação entre os Espíritos e os homens.

A questão que naturalmente surge neste ponto é a de se determinar qual é a natureza da faculdade mediúnica: quais as suas causas, por que surge somente em determinadas pessoas e em modalidades e graus diversos, se é passível de desenvolvimento forçado mediante alguma técnica etc.

Um aspecto central relativo à natureza da mediunidade acha-se exposto na resposta à questão que Kardec endereçou aos Espíritos no parágrafo 226 de O Livro dos Médiuns:

O desenvolvimento da mediunidade guarda proporção com o desenvolvimento moral dos médiuns?

"Não; a faculdade propriamente dita prende-se ao organismo; independe do moral. O mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom ou mau, conforme as qualidades do médium."

Como observamos pela resposta dos Espíritos, a capacidade de servir de "ponte" entre o mundo espiritual e o mundo material está ligada a fatores de ordem orgânica. Esse ponto encontra-se exarado em vários lugares das obras de Kardec e de outros autores espíritas abalizados, passando, no entanto, despercebido à maioria das pessoas, mesmo espíritas.

Já em 1859 Kardec afirmava, em seu livro Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas que "essa faculdade depende de uma disposição orgânica especial, suscetível de desenvolvimento." Em O Livro dos Médiuns as referências nesse sentido são numerosas. No parágrafo 94, por exemplo, que trata das manifestações físicas espontâneas, os Espíritos informam que a aptidão de ser médium de efeitos físicos "se acha ligada a uma disposição física." Bem mais adiante, ao estudar a formação dos médiuns (§ 209), Kardec retorna ao assunto:

Têm-se visto pessoas inteiramentre incrédulas ficarem espantadas de escrever [mediunicamente] a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que esta faculdade se prende a uma disposição orgânica.

Notemos que nesta última passagem há referência a mais um princípio importante: a mediunidade não depende das convicções filosóficas ou das crenças religiosas do médium.

Por fim, em resposta à questão 19 do parágrafo 223 desse mesmo livro os Espíritos esclarecem que "a mediunidade propriamente dita independe da inteligência bem como das qualidades morais" do médium. Portanto a mediunidade independe também do desenvolvimento intelectual do médium.

Resumindo o que vimos até aqui:

A mediunidade é a faculdade especial que certas pessoas possuem para servir de intermediárias entre os Espíritos e os homens. Ela tem origem orgânica, e independe:

da condição moral do médium;
de suas crenças;
de seu desenvolvimento intelectual.
No parágrafo 200 de O Livro dos Médiuns, Allan Kardec deixa claro que "não há senão um único meio de constatar [a existência da faculdade mediúnica em alguém]: a experimentação." Ou seja, só poderemos saber que uma pessoa é médium observando que efetivamente é capaz de servir de intermediário aos Espíritos desencarnados.

Isso naturalmente remete à importante questão do desenvolvimento da mediunidade. Por sua importância e pelas confusões e equívocos a que se tem prestado, merece ser abordada numa seção especial.

3. O desenvolvimento da mediunidade

Uma primeira observação a ser feita é que se a presença da faculdade mediúnica em uma pessoa independe de sua condição moral, intelectual e de crença, ninguém poderá tornar-se médium tão-somente pelo fato de moralizar-se, ou de estudar, ou de aderir às convicções espíritas. É evidente que essas atitudes serão de imenso proveito para a criatura, pois a colocarão em condições de compreender e utilizar bem a faculdade mediúnica que porventura possua.

É significativo, a esse respeito, que Kardec tenha alertado já no terceiro parágrafo da Introdução de O Livro dos Médiuns que muito se enganaria aquele que "supusesse encontrar nesta obra uma receita universal e infalível para formar médiuns." Lança mão, a seguir, de uma comparação muito clara e objetiva, que esclarece o assunto à saciedade (os destaques são nossos):

Se bem que cada um traga em si o gérmen das qualidades necessárias para se tornar médium, tais qualidades existem em graus muito diferentes e o seu desenvolvimento depende de causas que a ninguém é dado conseguir se verifiquem à vontade. As regras da poesia, da pintura e da música não fazem que se tornem poetas, pintores, ou músicos os que não têm o gênio de algumas dessas artes. Apenas guiam os que as cultivam no emprego de suas faculdades naturais. O mesmo sucede com o nosso trabalho. Seu objetivo consiste em indicar os meios de desenvolvimento da faculdade mediúnica, tanto quanto o permitam as disposições de cada um, e, sobretudo, dirigir-lhe o emprego de modo útil, quando ela exista.

O caráter espontâneo da faculdade mediúnica é ainda destacado no parágrafo 208 de O Livro dos Médiuns (o destaque é nosso):

Se os rudimentos da faculdade [mediúnica] não existem, nada fará que apareçam [...].

No capítulo intitulado "Manifestações dos Espíritos" de Obras Póstumas (parágrafo 6, no 34) encontramos esta densa passagem (destaque nosso):

O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da natureza mais ou menos expansível do perispírito do médium e da maior ou menor facilidade da sua assimilação pelo dos Espíritos; depende, portanto, do organismo e pode ser desenvolvida quando exista o princípio; não pode, porém, ser adquirida quando o princípio não exista.

E no parágrafo 198 de O Livro dos Médiuns, que trata da diversidade das faculdades mediúnicas, lemos ainda:

Em erro grave incorre quem queira forçar a todo custo o desenvolvimento de uma faculdade que não possua. Deve a pessoa cultivar todas aquelas de que reconheça possuir o gérmen. Procurar à força ter as outras é, antes de tudo, perder tempo, e, em segundo lugar, perder talvez, enfraquecer com certeza, as de que seja dotado.

Encerrando esse parágrafo, Kardec transcreve comunicação mediúnica de Sócrates sobre o desenvolvimento da mediunidade, que contém grave advertência:

Quando existe o princípio, o gérmen de uma faculdade, esta se manifesta sempre por sinais inequívocos. Limitando-se à sua especialidade, pode o médium tornar-se excelente e obter grandes e belas coisas; ocupando-se de tudo, nada de bom obterá. Notai, de passagem, que o desejo de ampliar indefinidamente o âmbito de suas faculdades é uma pretensão orgulhosa, que os Espíritos nuncam deixam impune. Os bons abandonam o presunçoso, que se torna então joguete dos mentirosos. Infelizmente, não é raro verem-se médiuns que, não contentes com os dons que receberam, aspiram, por amor-próprio ou ambição, a possuir faculdades excepcionais, capazes de os tornarem notados. Essa pretensão lhes tira a qualidade mais preciosa: a de médiuns seguros.

Apenas como exemplo de opinião de um outro autor, corroborativa da de Allan Kardec, vejamos como Emmanuel responde à questão 384 de seu livro O Consolador, questão essa que versa especificamente sobre o tema que estamos focalizando:

Dever-se-á provocar o desenvolvimento da mediunidade?

A mediunidade não deve ser fruto de precipitação nesse ou naquele setor da atividade doutrinária, porquanto, em tal assunto, toda a espontaneidade é indispensável, considerando-se que as tarefas mediúnicas são dirigidas pelos mentores do plano espiritual.

Logo em seguida, em resposta à questão 386, o conceituado Espírito reitera:

Ninguém deverá forçar o desenvolvimento dessa ou daqula faculdade, porque, nesse terreno, toda a espontaneidade é necessária; observando-se contudo, a floração mediúnica espontânea, nas expressões mais simples, deve-se aceitar o evento com as melhores disposições de trabalho e boa-vontade [...].

Precisamos portanto estar vigilantes quanto à opinião, infelizmente tão comum no meio espírita, de que as pessoas que aparecem nas casas espíritas devem, cedo ou tarde, ser encaminhadas às chamadas "sessões de desenvolvimento mediúnico". São dois os motivos mais freqüentemente alegados para esse tipo de recomendação: 1) o empenho e dedicação com que alguém se interesse pelo Espiritismo, sugerindo, segundo julgam, que tem "todas as condições" para exercer a mediunidade; 2) os desequilíbrios variados de saúde ou de comportamento que apresente, notadamente quando venham desafiando a perícia dos médicos.

Ora, no primeiro caso dever-se-ia ponderar que as boas disposições da pessoa deverão ser aproveitadas antes de mais nada em seu aperfeiçoamento intelectual e moral, e, em se tratando de sua colaboração nas atividades do centro espírita, naquele setor ao qual mais se ajuste por sua formação profissional, seus interesses e disponibilidades, quais sejam a condução de estudos, a evangelização infanto-juvenil, a administração, a biblioteca, as visitas fraternas, a costura de enxovais, a faxina, a distribuição de alimentos, a acolhida aos novos freqüentadores etc., ou os trabalhos mediúnicos, se os sinais de mediunidade se apresentarem de forma espontânea.

No segundo caso, que é o mais freqüente, seria preciso compreender que o mero fato de alguém encontrar-se desequilibrado significa que não pode ser inserido no grupo mediúnico, sob o risco de comprometer o seu bom funcionamento. A mediunidade em si é uma faculdade neutra, que não tem qualquer conexão com os desajustes físicos, mentais e espirituais da criatura. Estes surgem por motivos específicos, e requerem o tratamento médico, psicológico ou espírita adequado ao caso. Somente após seu retorno à normalidade é que a pessoa poderá participar, como médium, dos trabalhos mediúnicos, se a faculdade surgir espontaneamente. O exercício da mediunidade não é recomendável na presença de determinadas enfermidades físicas, como por exemplo, nas doenças contagiosas, ou onde o equilíbrio orgânico esteja "por um fio" e a atividade mediúnica envolva situações que emocionem muito o médium. No caso dos desequilíbrios mentais e espirituais, o exercício mediúnico não pode nunca ser iniciado, ou continuado. Um médium nessas condições não poderá contribuir positivamente, além de gerar dificuldades para o grupo, facilitando mesmo a atuação de Espíritos interessados na instalação da desarmonia, dos melindres, das suspeitas, do enregelamento das relações entre os membros.

O desenvolvimento mediúnico a ser promovido nos centros espíritas não deve nunca ser entendido como o aprendizado de técnicas e métodos para fazer surgir a mediunidade, pois que não os há nem pode haver, mas exclusivamente como o aprimoramento e direcionamento útil e equilibrado das faculdades surgidas de forma natural, o que pressupõe o aperfeiçoamento integral do médium, por meio do estudo sério e de seus esforços incessantes para amoldar suas ações às diretrizes evangélicas.

Ressaltemos, outrossim, que os núcleos espíritas não deverão iniciar qualquer trabalho mediúnico, quer de desenvolvimento (no sentido correto do termo), quer, menos ainda, de assistência aos Espíritos enfermos, se não estiverem seguros de que dispõem de colaboradores suficientemente preparados, por seus conhecimentos doutrinários, por seu equilíbrio psicológico e por sua conduta cristã, que disponham de tempo para encetar com regularidade tão delicada tarefa.

Resumindo o que foi visto nesta seção:

A mediunidade é uma faculdade natural, que surge espontaneamente.
Não se deve procurar desenvolvê-la enquanto não aflorar por si só.
O desenvolvimento da mediunidade deve ser entendido unicamente como a sua educação, o seu aprimoramento, a sua disciplina, o seu direcionamento útil para o bem.
A mediunidade não é a causa primária dos desequilíbrios orgânicos e psicológicos.
O exercício da mediunidade não deve ser colocado como a culminação obrigatória das atividades do cooperador da casa espírita.

4. Os mecanismos da mediunidade

Na presente seção procuraremos reunir alguns informes sobre os mecanismos da faculdade mediúnica, ou seja, sobre como se dá o fenômeno mediúnico. A fonte básica continuará sendo Allan Kardec. Iniciemos com este trecho, já parcialmente transcrito, do capítulo "Manifestações dos Espíritos" de Obras Póstumas (§ 6, no 34; o destaque é nosso):

O fluido perispirítico é o agente de todos os fenômenos espíritas, que só se podem produzir pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito. O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da natureza mais ou menos expansível do perispírito do médium e da maior ou menor facilidade da sua assimilação pelo dos Espíritos.

Esmiuçando as informações aqui contidas, notamos:

O perispírito desempenha papel de capital importância no processo mediúnico.
Sendo o perispírito "o agente de todos os fenômenos espíritas", e estes só podendo produzir-se pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito, temos como regra sem exceções que, ocorrendo um fenômeno de comunicação com o mundo espiritual, necessariamente haverá a participação de um médium. Em alguns casos, como em certas manifestações de efeitos físicos, não se nota a presença do médium, mas podemos estar certos de que haverá alguém, em algum lugar, servindo de médium, ainda mesmo que este não esteja consciente do papel que desempenha. Também percebemos que serão vãos os esforços de certos pesquisadores que, desprezando a riquíssima contribuição do Espiritismo para o estudo daquilo que (impropriamente) denominam "paranormalidade", tentam detectar o Espírito unicamente por meio de aparelhos. Se algum instrumento chegar a registrar um espírito, é porque houve a participação oculta de algum médium. Neste caso, seria mais confiável analisar a manifestação diretamente, sem o recurso indireto de instrumentos, que sempre constituem fonte adicional de incertezas.
A presença da faculdade mediúnica em alguém liga-se à possibilidade de seu perispírito "expandir-se". Veremos logo mais que essa "expansão" do corpo espiritual pode ser entendida como a sua parcial desvinculação do corpo físico.
A efetivação da comunicação exige, além da "expansão" do perispírito do médium, a assimilação deste com o perispírito do Espírito comunicante, ou seja, tem de haver sintonia entre ambos. Esse fato importante, de que o médium em geral não é capaz de comunicar-se indiscriminadamente com todos os Espíritos, é exposto em Obras Póstumas imediatamente após o trecho que acabamos de transcrever (§ 6, no 35; os grifos são nossos):
As relações entre os Espíritos e os médiuns se estabelecem por meio dos respectivos perispíritos, dependendo a facilidade dessas relações do grau de afinidade existente entre os dois fluidos. Alguns há que se combinam facilmente, enquanto outros se repelem, donde se segue que não basta ser médium para que uma pessoa se comunique indistintamente com todos os Espíritos. Há médiuns que só com certos Espíritos podem comunicar-se ou com Espíritos de certas categorias, e outros que não o podem a não ser pela transmissão do pensamento, sem qualquer manifestação exterior.

No exame do assunto do item 3, podemos colher subsídios em André Luiz, o autor espiritual que tanto tem contribuído para a extensão de nosso conhecimento científico acerca da mediunidade. Em sua obra Evolução em Dois Mundos, ao analisar a fase evolutiva em que se elaborava a faculdade de desprendimento do veículo perispiritual durante o sono (capítulo 17, item "Mediunidade espontânea"), adianta esta valiosa informação (grifamos):

Consolidadas semelhantes relações com o Plano Espiritual [...], começaram na Terra os movimentos de mediunidade espontânea, porquanto os encarnados que demonstrassem capacidades mediúnicas mais evidentes, pela comunhão menos estreita entre as células do corpo físico e do corpo espiritual, em certas regiões do campo somático, passaram das observações durante o sono às da vigília, a princípio fragmentárias, mas acentuáveis com o tempo [...].

Vemos, assim, que o respeitado cientista deixa entrever a correlação íntima entre a possibilidade de contato com a realidade espiritual durante a vigília (mediunidade) e um certo "afrouxamento" das ligações entre as células do perispírito e as suas correspondentes do corpo material. Prosseguindo, André Luiz explicita mais essa correlação:

Quanto menos densos os elos de ligação entre os implementos físicos e espirituais, nos órgãos da visão, mais amplas as possibilidades na clarividência, prevalecendo as mesmas normas para a clariaudiência e modalidades outras, no intercâmbio entre as duas esferas [...].

Refletindo um pouco sobre as assertivas de André Luiz, verificamos, inicialmente, que não conflitam com a explicação dada por Kardec, em termos da capacidade de expansão do perispírito do médium. Há, pelo contrário, até um reforço, já que a noção de "expansão" é aqui suficientemente abrangente e flexível para permitir ulteriores elaborações e detalhamentos, dentro da natureza eminentemente progressiva do Espiritismo. Podemos compreender, deste modo, a "expansibilidade" do perispírito como a sua faculdade de desvinculação parcial e temporária do corpo físico, passando, nesse estado especial, a partilhar da realidade do mundo espiritual para nela colher impressões diversas, sem no entanto perder a possibilidade de atuação sobre o corpo denso.

É fundamental deixar claro que o que acabamos de expor não corrobora de modo algum a idéia popular de que no processo mediúnico o Espírito do médium "sai" e "dá lugar" ao Espírito comunicante, que passaria então a servir-se diretamente do corpo do médium. Os Instrutores Espirituais já esclareceram a Kardec, no importante capítulo "Do papel do médium nas comunicações espíritas" de O Livro dos Médiuns que essa idéia não corresponde à realidade. A mensagem sempre passa pelo Espírito do médium, mesmo quando ele não guarda disso a consciência ao despertar do transe. Vejamos o que dizem no item sexto do parágrafo 223:

O Espírito que se comunica por um médium transmite diretamente o seu pensamento, ou este tem por intermediário o Espírito do médium?

"É o Espírito do médium que é o intérprete, porque está ligado ao corpo que serve para falar e por ser necessária uma cadeia entre vós e os Espíritos que se comunicam, como é preciso um fio elétrico para comunicar à grande distância uma notícia e, na extremidade do fio, uma pessoa inteligente que a receba e transmita."

Compreendemos então que, em última instância, o comando do veículo físico só pode ser feito pelo seu próprio "dono". Poderíamos dizer que o corpo material é feito "sob medida" para cada Espírito, e que não "serve" para nenhum outro. O Espírito estranho não tem como agir diretamente sobre as células materiais formadas sob a influência de outro Espírito e para o seu próprio uso.

É interressante notar que nas questões seguintes à transcrita os Espíritos frisam mesmo enfrentando uma oposição inicial de Kardec que essa é uma regra absoluta, sem exceções, nem mesmo na mediunidade dita "mecânica", ou ainda nos casos de efeitos físicos onde uma mensagem inteligente é transmitida (tiptologia, escrita por meio de pranchetas etc). Vemos, na questão 10 do referido parágrafo, que os Espíritos expressam indiretamente sua desaprovação a esse modo de denominar a mediunidade na qual o médium não guarda consciência do conteúdo da cominicação: o médium jamais atua como máquina, mecanicamente.

Resumindo o conteúdo desta seção:

O perispírito desempenha papel essecial em todos os processos mediúnicos.
A faculdade mediúnica liga-se à possibilidade de o perispírito desvincular-se parcialmente do corpo físico durante a vigília.
A comunicação não se efetiva sem que haja sintonia entre os perispíritos do médium e do Espírito.
A comunicação espiritual, ainda que de efeitos físicos, sempre passa pelo Espírito do médium.

5. As modalidades mediúnicas

Um aspecto importante dos esclarecimentos de André Luiz é que permitem compreender não somente como se dá o fenômeno mediúnico, mas também o porquê da existência de diferentes modalidades de mediunidade. Observamos, pelos trechos citados, que a faculdade mediúnica será deste ou daquele tipo conforme a região do organismo em que as células do perispírito apresentem maiores possibilidades de desvinculação das que lhe correspondem no corpo físico. Desse modo, segundo o exemplo dado, se for nos órgãos da visão que ocorre a maior liberdade das células do perispírito, a mediunidade assumirá a forma de vidência; se nos órgãos da audição, a de audiência; se nos da fala, a de psicofonia, e assim por diante.

Devemos notar, no entanto, que os órgãos a que se refere André Luiz são, conforme se depreende de outras passagens de sua obra, não tanto os órgãos periféricos olhos, ouvidos, mãos etc. , mas fundamentalmente as regiões do cérebro responsáveis por seu comando. De fato, a ciência mostrou que há no cérebro grupos de neurônios (células nervosas) mais ou menos especializados para as diversas faculdades sensoriais e motoras. No caso da visão, por exemplo, tais neurônios recebem, através do nervo óptico, os impulsos elétricos gerados na retina do olho, sinais esses que a alma interpreta como imagens. O mesmo se dá, mutatis mutandis, com os demais sentidos. No caso das funções motoras, ao comando da alma determinados centros cerebrais enviam, através dos diferentes nervos, impulsos elétricos aos músculos, resultando daí os movimentos corporais.

Kardec dividiu os médiuns em duas grandes categorias: os de efeitos físicos e os de efeitos intelectuais. Os primeiros são "aqueles que têm o poder de provocar efeitos materiais, ou manifestações ostensivas"; os segundos, "os que são mais especialmente próprios a receber e a transmitir comunicações inteligentes" (O Livro dos Médiuns, parágrafo 187). Para fins didáticos, é conveniente subdividir a categoria de efeitos inteligentes em dois grupos: efeitos sensoriais (percepção da realidade espiritual na forma de uma impressão dos sentidos) e efeitos intelectuais propriamente ditos (transmissão de uma mensagem inteligente pela palavra escrita, oral, por gestos etc.).

6. O exercício da mediunidade

Na seção 2 deste trabalho vimos que se deve fazer uma distinção clara entre a mediunidade, enquanto faculdade, e o seu uso ou exercício. Se a faculdade em si é neutra, o mesmo não vale para o seu uso, que pode ser bom ou mau, dependendo da condição moral do médium.

Na Introdução de O Livro dos Médiuns Kardec destaca entre os objetivos da obra a orientação para que a mediunidade seja empregada de modo útil. Um requisito essencial para isso é a compreensão de sua natureza e mecanismos, no que o Espiritismo tem contribuído de forma decisiva. Respeitando a liberdade humana, ele não poderia prescrever normas de conduta para os médiuns de maneira cega, impositiva, sem um esclarecimento racional da sua necessidade. É fácil constatar a justeza da afirmação de Kardec, nessa mesma Introdução, de que "as dificuldades e os desenganos com que muitos topam na prática do Espiritismo se originam na ignorância dos princípios desta ciência".

A preocupação com a compreensão e o exercício corretos da mediunidade vem sendo partilhada pelos espíritas sérios, que se conscientizaram da necessidade do crescimento espiritual do médium para que sua faculdade seja bem empregada. Muitos dos grandes autores espíritas dos dois planos da vida nos têm legado estudos e lições preciosas sobre a mediunidade e seu objetivo. Procuraremos, no que se vai seguir, compilar alguns desses ensinamentos.

Comecemos, no entanto, com O Livro dos Médiuns, em cujo parágrafo 226 Kardec pergunta aos Espíritos (no 3):

Os médiuns que fazem mau uso de suas faculdades, que não se servem delas para o bem, ou que não as aproveitam para se instruírem, sofrerão as conseqüências dessa falta?

"Se delas fizerem mau uso, serão punidos duplamente, porque têm um meio a mais de se esclarecerem e não o aproveitam. Aquele que vê claro e tropeça é mais censurável do que o cego que cai no fosso."

A questão da responsabilidade moral do uso da mediunidade é semelhante à das demais faculdades do homem. Aquele que emprega mal a inteligência, a palavra, os dotes artísticos ou a força física arcará com as conseqüências desse emprego, devendo expiar e reparar as faltas cometidas. No caso da mediunidade há um agravante, conforme se salienta na resposta dada, pois ela é poderoso recurso iluminativo.

É por meio da mediunidade que nos certificamos de nossa natureza imortal, fato de suma importância, em torno do qual gira todo o Espiritismo e sua doutrina moral. É ela que nos desvenda a vida futura, possibilitando-nos conhecer de modo abrangente os efeitos de nossas ações. Ajuizaremos então com mais acerto sobre o que nos convém ou não fazer, com vistas à nossa felicidade integral.

Para nós, os encarnados, a mediunidade constitui advertência contra o equívoco de tudo considerarmos do ponto de vista de nossos interesses materiais e imediatos, incentivando-nos a lutar contra o egoísmo, o embrutecimento dos prazeres, a estagnação do conhecimento.

Para os desencarnados sofredores, revoltados ou aturdidos, representa muitas vezes a via preferencial de despertamento, possibilitando-lhes retomar o progresso espiritual. A maioria das instituições espíritas em nosso país hoje em dia centraliza sua atuação mediúnica precisamente nessa tarefa, tão louvável pelos benefícios que espalha, mas também tão delicada em sua condução, exigindo muito preparo da equipe, quer no que concerne ao conhecimento doutrinário e à disciplina, quer quanto ao espírito fraterno e à devoção incondicional ao bem do próximo.

A esse respeito adverte Emmanuel no capítulo "Examinando a mediunidade" do livro Encontro Marcado:

O exercício da mediunidade nas tarefas espíritas exige larga disciplina mental, moral e física, assim como grande equilíbrio das emoções.

Na obra Educação e Vivência, lição "Mediunidade e problemas", o Espírito Camilo tece as seguintes considerações, ainda dentro desse tópico:

Tristemente, porém, muitas dessas criaturas que se sabem ou se imaginam médiuns não são bafejadas pelos recursos de amadurecido estudo, a fim de que compreendam o que é que se passa nesse vasto território dos fenômenos psíquicos.

Seria de esperar que os indivíduos que se embrenham pelos bosques das percepções mediúnicas fossem caindo em si, aprendendo que todos terão que dar conta desses talentos formidáveis que lhes são concedidos, nas experiências terrenas, na condição de empréstimo, proporcionando liberdade e ventura íntimas, logrando evadir-se dos tormentosos episódios do pretérito culposo ou negligente.

E em Cintilação das Estrelas (capítulo 32) esse lúcido Espírito prossegue no assunto:

Em mediunidade é importante que o médium se aplique em melhorar-se a si próprio, ampliando as percepções, iluminando-se a cada hora, nas lutas que deve enfrentar, na pauta do cotidiano.

O desenvolvimento da mediunidade marcha ladeando o desenvolvimento do médium. Quanto melhor o indivíduo, maior a sua fulgência mediúnica no bem.

Aprimore-se o homem para que se lhe ampliem as posições de sensibilidade mediúnica.

Têm-se infelizmente observado muitos agrupamentos mediúnicos descuidados quanto às superiores finalidades da mediunidade, bem como quanto às diretrizes doutrinárias que devem guiar sua prática. Não raro desenvolvem suas atividades de forma ritualística, tratando os médiuns como simples máquinas de comunicação. No momento do intercâmbio, os trabalhadores assumem posturas formais, como que denotando concentração e devoção ao bem, mas que nem sempre se fazem acompanhar das atitudes íntimas correspondentes. Manoel Philomeno de Miranda comentou esse tópico no capítulo intitulado "Mediunidade e viciação", do livro Sementeira da Fraternidade (p. 123):

O médium é filtro por cuja mente transitam as notícias da vida além-da-vida.

Nesse sentido, consideramos a concentração mental de modo diverso dos que a comparam a interruptor de fácil manejo que, acionado, oferece passagem à energia comunicante, sem mais cuidados... A concentração, por isso mesmo, deve ser um estado habitual da mente em Cristo, e não uma situação passageira junto ao Cristo.

Já analisamos na seção 3 a situação na qual o aparecimento da faculdade mediúnica se dá juntamente com desequilíbrios físico-espirituais variados, destacando o erro dos que consideram tais distúrbios como uma conseqüência da mediunidade em si. Em Educação e Vivência (p. 111), Camilo enfoca outro ângulo dessa questão:

A decantada "mediunidade de provas" não passa de episódio no qual alguém em provas e sérias expiações recebeu da Divina Misericórdia as excelências da sensibilidade mediúnica, através de cujas portas será chamado ou convocado à assunção de responsabilidades, bem como ao cumprimento dos deveres para com Deus, através do próximo.

Dessa forma a mediunidade, mesmo quando se apresente assinalada por impertinentes padecimentos dos médiuns, representa para eles a mão da Celeste Providência evitando dores maiores e tormentos mais acerbos.

A origem do nosso sofrimento, da nossa aflição, não reside na mediunidade, mas a bagagem de desacertos que ainda trazemos, acumulada nesta e em vidas pregressas. É por isso que nossos recursos mediúnicos, neutros em si mesmos, amiúde ainda se ligam aos mundos de sombra. Mal empregada, a mediunidade significará o cultivo da ignorância, a disseminação da dúvida e da mentira, o insuflamento do egoísmo e do orgulho, da vaidade e do personalismo, o verbo e o texto degradantes, a manipulação de forças mentais deletérias, a porta aberta às obsessões.

No capítulo 39 do livro Sementeira da Fraternidade, Vianna de Carvalho descreve a mediunidade como "canal cósmico por onde transitam seguras as consolações e esperanças para o atribulado espírito humano" (p. 179), destacando outro aspecto da mediunidade: o consolo que prodigaliza ao homem em sua vida de incertezas e de dores. Que de mais belo existe do que saber que o abismo que se imagina existir entre nós e os entes queridos que já partiram não é intransponível; que os sofrimentos que não conseguimos evitar têm causas justas ligadas ao nosso passado!...

Dádiva com que a misericórdia divina nos favorece, informando-nos de nossa natureza de seres imortais, a mediunidade bem empregada reveste as formas de esclarecimento acerca da vida além-túmulo, de consolo para os que perderam a esperança, de advertência salvadora para os equivocados, de amparo para os que cambaleiam, de recursos terapêuticos para os que enfermaram, de despertamento para os sofredores e os trânsfugas do dever que já cruzaram a aduana da morte. Daí a necessidade de desenvolvermos esse abençoado talento, nos trabalhos da caridade, nos exercícios constantes de benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições dos outros, de perdão das ofensas, conforme a questão 886 de O Livro dos Espíritos.

Reconheçamos, acima de tudo, que mais importante do que sermos bons médiuns, no que toca à faculdade, é sermos médiuns bons, a serviço de Jesus.

Referências bibliográficas

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CAMILO. Cintilação das Estrelas. (Médium José Raul Teixeira.) Niterói, Fráter, 1992.
----. Educação e Vivência. (Médium José Raul Teixeira.) Niterói, Fráter, 1993.
CERVIÑO, J. Além do Inconsciente. 2a ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1968.
CHIBENI, S. S. "Espiritismo e ciência", Reformador, maio de 1984, pp. 144-47 e 157-59.
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EMMANUEL. O Consolador. (Médium Francisco Cândido Xavier.) 8a ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1940.
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KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985).
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----. Le Livre des Médiums. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1978). O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro, 59a ed., revista, Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, s.d.
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----. L'Obsession. (Extratos da Revue Spirite.) Farciennes, Éditions de L'Union Spirite, 1950.
PEREIRA, Y.A. Devassando o Invisível. 4a ed., Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 1963.
PHILOMENO DE MIRANDA, Manoel. "Mediunidade e viciação", in: Sementeira da Fraternidade. (Ditado por Espíritos diversos a Divaldo Pereira Franco.) 3a ed., Salvador, Livraria Espírita Alvorada Editora, 1979. Capítulo 25, pp. 121-24.
VIANNA DE CARVALHO. "Hipnose e mediunidade", in: Sementeira da Fraternidade. (Ditado por Espíritos diversos a Divaldo Pereira Franco.) 3a ed., Salvador, Livraria Espírita Alvorada Editora, 1979. Capítulo 39, pp. 177-81.
(Artigo publicado em Reformador de agosto de 1987, pp. 240-43 e 253-55.)


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Estudo de Passe II







Combinado com o fluido humano, o fluido espiritual lhe imprime qualidades de que ele carece.  Em tais circunstâncias, o concurso dos Espíritos é amiúde espontâneo, porém, as mais das vezes, provocado por um apelo do magnetizador.

(A Gênese – Allan Kardec)



Nesse pequeno estudo sobre o passe, não abordaremos o roteiro comum usado por qualquer pessoa quando precisa conhecê-lo ou praticá-lo.  Apenas transcreveremos as explicações e opiniões dos amigos espirituais, a nós passadas, em reunião específica sobre o tema.

Procuramos traduzir o mais fielmente possível as elucidações, razão pela qual mantivemos quase na íntegra aquilo que nos foi dito, mudando apenas uma ou outra palavra, no sentido de torná-la mais adequada ao texto.

Após a prece inicial e leitura de pequeno trecho evangélico, os médiuns entraram em meditação.  Os amigos espirituais não se fizeram esperar.

... Como vocês já sabem, nossas observações hoje serão restritas ao passe, essa doação de energia, usada como terapia mesmo antes de Jesus, cujos efeitos são confirmados cientificamente na atualidade.   No passe, a doação fluídica pode ocorrer emanada tanto do encarnado que assiste a um enfermo, como de um desencarnado que auxilia o passista naquele instante, ou ainda de ambos.  No momento da aplicação, o Espírito chama a si energias do cosmo, como se as captasse com as mãos, atraídas que são pela força mental que as dirige.  Essa energia satura todo o perispírito do passista no instante da operação, caso o passe seja misto (fluidos vitais e espirituais), sendo ele o primeiro beneficiado pelo trabalho que faz.  Vale salientar que o passe é exercido também no plano espiritual como processo terapêutico que é, obedecendo aos mesmos requisitos básicos em sua aplicação, quando usado nas casas espíritas sérias.

Demonstração para os videntes:  “Percebo um companheiro com as mãos levantadas, e ao seu redor, circulando-o, uma pequena atmosfera azulada, como se fosse luz néon, atraída pela vontade dele.  Ele aproxima-se de “x” e aplica um passe para demonstrar a sua mecânica.  Das mãos dele saem raios, tipo “laser”, muito finos.  Do seu tórax também emanam esses raios.  Como o tempo de emissão fluídica foi um pouco demorado, os raios foram perdendo a intensidade luminosa, e ele prontamente ergueu os braços para o alto reabastecendo-se.  Ao levantar as mãos ele estava orando.  Seu semblante é novamente azulado, e está carregado como uma pilha.  Enquanto ele orava formou-se ao seu redor, um pouco acima da sua cabeça, um canal luminoso possibilitando que se reabasteça.  Ele parece sentir a chegada da energia, pois se agita um pouco, como se levasse leve choque.  A luz é predominantemente azul, com pequenas oscilações.  Ele agora começa aplicar um passe em “y”.  As etapas são as mesmas.  Doação, enfraquecimento da luz, levantamento das mãos, absorção de energias do cosmo e luminosidade.”

Essa técnica também pode ser executada pelos obsessores, quando procuram transmitir aos seus desafetos as suas emoções e sentimentos.  No passe a que vocês assistiram o companheiro quis transmitir (e o fez, através de sua vontade) o bem, o equilíbrio, a serenidade... No caso da obsessão, o comportamento e a carga fluídica têm sentido inverso.

Demonstração para os videntes:  “Vejo através de uma tela, como em um cinema, um rapaz com desejos suicidas, sob a atuação mental de uma jovem ofendida por ele no passado.  A jovem (obsessora) impõe as mãos sobre ele, encharcando o seu perispírito de uma substância enegrecida, fazendo com que os seus centros de força diminuam em intensidade vibratória.  De todo o corpo da jovem sai esse “piche” como se ela o transpirasse, transferindo-o para o rapaz, que o absorve pelos poros.  Da mesma maneira que as energias puras e cristalinas envolveram e penetraram o encarnado no primeiro caso, os fluidos densos e pegajosos também conseguem impregnar o perispírito do rapaz.  A aura do obsidiado apresenta-se escura, e nota-se perfeitamente que a sintonia entre ambos facilita esse intercâmbio fluídico.”

- No passe que observamos em primeiro lugar, o passista retirava as energias do cosmo e as passava para outra pessoa.  No fenômeno obsessivo, os fluidos densos são apenas do obsessor, ou ele os retira de determinado lugar do espaço?

- Ele pode absorver as energias do ambiente em que circula.  Devido às suas criações mentais e fixações, o ambiente torna-se asfixiante e viciado.  Todavia, no caso observado, a jovem ignora esse detalhe.  É algo automático.  É a lei, mas muitos desconhecem esse mecanismo.  Influenciam o meio e são por ele influenciados, sem se aperceberem dessa realidade.  É algo análogo ao que acontece conosco em relação ao ar.  Respiramos, mas não vemos o ar e não nos importamos em procurá-lo.  Apenas respiramos.  No caso da jovem, ela traz uma fixação (a vingança) e isso é tudo quanto enxerga, constituindo-lhe essa visão a sua diretriz.  Contudo, ela assimila e transmite fluidos, tal qual nós o fazemos na aplicação do passe.  Em nosso trabalho usamos a oração.  No dela a vontade firme de vingar-se.  O processo é o mesmo, os objetivos é que são diferentes.  O passe como transmissão fluídica pode trazer conseqüências positivas ou não, dependendo de quem veicula a carga energética.

No momento em que a carga fluídica positiva invade o enfermo, produz o efeito benéfico de restaurar energias, eliminando fluidos densos e neutralizando cargas negativas, absorvidas por métodos alimentares, emoções descontroladas ou atuação de obsessores.  Quando o passe é efetuado em conjunto, encarnado auxiliado por um desencarnado, o auxiliar invisível procede como já foi descrito, transmitindo ao passista a cota energética para que este, unindo-a às suas energias vitais, as encaminhe ao paciente.  É como se o desencarnado aplicasse um passe no passista, e este um outro no enfermo.  Nesse tipo de passe, existe doação de fluidos vitais do passista, que deve estar preparado física e moralmente.

Às vezes ocorre repulsão dos fluidos por parte de quem os espera receber.  A descrença, a desconfiança, a acomodação nos vícios, formam couraças no paciente, espécie de redoma que dificulta a penetração fluídica, não de permitindo o alívio da enfermidade.

- Um passista pode absorver os fluídos enfermiços de alguém a quem assiste?

-Tudo depende do seu preparo.  Quando ele comparece ao Centro Espírita consciente do trabalho de enfermagem que vai exercer, traz consigo uma espécie de campo protetor que o imuniza contra os fluidos do paciente.  Um médico ao examinar um doente, previne-se para não contrair a doença que examina. Mas, se o passista é um despreparado, sem estudo e sem disciplina em suas ações, logicamente se exporá ao contacto dos fluídos.  Por sinal, ele poderá atraí-los com sua própria sintonia. 

- Por que existe a necessidade de o encarnado praticar o passe, se os desencarnados também o ministram?

- O encarnado participa da terapêutica doando de si próprio, de sua vitalidade, ao mesmo tempo em que exercita a sua capacidade de doação. Isso é amor.  Ao valorizar a oportunidade de serviço, ele eleva e eleva-se, reconhecendo no outro um seu irmão, e aos poucos vai contribuído para a paz em si e no mundo que o cerca.  Além do mais, muitas pessoas que buscam o Centro Espírita para a terapia do passe o fazem por doenças físicas, desgaste de órgãos, estresse, problemas atenuados com o fluido vital do passista.  Os fluidos que os desencarnados manejam são largamente usados nos problemas psíquicos tais como angústia, depressão, remorso... Como as duas sintomatologias podem associar-se, é natural que os fluidos também se casem para um alívio maior.

Em algumas ocasiões o passe espiritual pode preceder o passe magnético do médium.  Modificando a química do corpo para uma maior absorção e eficiência do fluido vital, o passe espiritual promove assepsia e harmonização das correntes de força do corpo, possibilitando à transfusão fluídica operar as mudanças físicas, tal qual a transfusão sanguínea procede ao acerto das funções vitais.  Quando o passe é aplicado nos Centros Espíritas sérios, tem-se a garantia dessa conjugação de fluidos, (espirituais e vitais) que, direcionados a pacientes já devidamente harmonizados pela leitura evangélica e palestra instrutiva, minimizam o efeito da refração.

- Por que algumas pessoas não se sentem bem ao tomar o passe?

- O efeito do passe tem múltiplas variações.  Pode agir de maneira a despertar energias adormecidas, predispondo alguém para o trabalho renovador, o otimismo, a esperança... A outro, acostumado ao clima denso da psicosfera ambiental onde vive e de sua própria, ao receber uma carga fluídica que desintoxica momentaneamente, pode torná-lo inadaptado ao novo clima, advindo daí náuseas, dor de cabeça, incômodos de natureza psíquica, sintomas superáveis pela persistência na renovação.  Os que desistem da terapia se parecem com alguns habitantes que, morando em pântanos, sobem as grandes montanhas onde o ar é rarefeito e sentem-se cansados, voltando aos ares pesados a que se acostumaram.

- No médium passista, chamado médium curador, pode haver um desgaste físico pela constante doação de fluídos?

- Kardec já explicava há mais de um século, que o exercício muito prolongado de qualquer faculdade produz fadiga, necessitando o médium de um período de refazimento. O médium de efeitos físicos, o curador, como você chama, traz em si uma cota fluídica extra, que o capacita a exercer essa atividade moderadamente, sem perigo para a sua saúde.  Assim como na transfusão sanguínea o organismo restabelece o volume de sangue cedido, também no passe ocorre o mesmo fenômeno.

- Existem movimentos específicos que efetuados pelo passista direcionam melhor os fluidos, ou basta a imposição das mãos?

- Existem basicamente duas técnicas.  Na primeira, o Espírito aciona a sua mente e impõe as mãos no local afetado pela enfermidade, neutralizando energias negativas, revitalizando tecidos e órgãos deficientes.  Pode também saturar os centros de força ligados à região afetada, para que eles, à maneira de baterias, distribuam a energia para onde houver necessidade.  No segundo caso, o Espírito utiliza mãos e mente para retirar cargas negativas, substituindo-as por cotas positivas.  Movimentos manuais de retirar são comuns nessa técnica, acompanhados de imposições para efeitos de reposição fluídica.  Alguns passistas apenas utilizam a imposição das mãos e, em oração, pedem a cura do enfermo.  Mas nem sempre mentalizam a retirada dos fluídos tóxicos, ou a reposição de fluídos saudáveis.  Os Espíritos mais elevados conseguem a retirada e a reposição dos fluidos apenas com a mente, sem movimentos de mãos.  Todavia, se conseguirmos mentalizar a retirada fluídica e assim procedermos com movimentos, fazendo o mesmo com a reposição, creio que o enfermo sairá mais convencido da eficiência do passe (efeito psicológico) que se apenas nos postarmos em sua frente e orarmos.  A imposição das mãos com seus movimentos tem a função de direcionar a carga fluídica.  O excesso na encenação, tiques, trejeitos, gingados, fungados... fazem parte do folclore do passe, e não da sua eficiência.

- Na subjugação, quando já existe a ligação fluídica cérebro a cérebro entre obsessor e obsedado, qual a melhor técnica para separá-los?

- Não é aconselhável o desligamento imediato na maioria das vezes.  Se a obsessão é de longo curso, ambos se alimentam das emanações resultantes da simbiose que mantêm.  Os operadores fluídicos concentram energias nas regiões dos ligamentos que os unem, e estas aos poucos vão enfraquecendo, ocasião em que se efetua a separação da dupla.  O ato seguinte é o esclarecimento, mesmo sabendo que os vínculos psíquicos podem perdurar por alguns anos.  Todavia, cada caso requer tratamento diferenciado, pois cada Espírito tem o seu livre-arbítrio para demorar-se no lodo ou tocar as estrelas.

- Existe alguma recomendação para o passe aplicado em crianças?

- A princípio não.  Devemos contudo investigar a problemática, visando um melhor atendimento.  Não seria o quadro apresentado por ela mais específico da medicina acadêmica?   Não queremos com isso descartar o passe como inútil, mas na verminose, na anemia, subnutrição... a criança precisa de algo mais além do passe.  Não devemos nos descuidar também do problema obsessivo, pois crianças há que padecem graves obsessões, necessitando de um tratamento desobsessivo paralelo.  A criança amada, acariciada, olhada com carinho, está sempre recebendo fluidos revitalizantes de seus pais.  Um afago de mãe não é um passe?  No abraço do pai não vai parte dele, a parte melhor do seu fluido?  Amemos nossas crianças.  O amor sempre foi e sempre será o maior e melhor condutor de bons fluidos.

- Como tratar a pessoa que está bem de saúde e toma passe todos os dias?

- Com paciência e esclarecimento.  Muitas vezes o passe age como efeito psicológico, mantendo a pessoa saudável.  Pode até ser usado à semelhança de um placebo, quando a pessoa que não o toma começa a imaginar sintomas que não tem, e a atribuir qualquer desarmonia de sua vida à ausência dele.  A casa Espírita também é visitada por hipocondríacos que precisam ser auxiliados.  São pessoas dependentes, que com esforço pessoal e coletivo tendem a se libertar.  No entanto, algumas necessitam realmente de passes rotineiros, devido à deficiência apresentada em órgãos que precisam de energização.  Em outros casos o passe faz o papel de hemodiálise, desintoxicando o sistema fluídico, sobrecarregado pela ineficiência dos centros de força.  Em tudo devemos agir com justiça e conhecimento de causa.

Médium: “Para finalizar ele nos mostra um filme, com imagens do deslocamento da energia por ocasião do passe.  Vejo que o fluxo da energia no momento do passe não se dá apenas pelas mãos, e sim por todo o corpo do passista.  A maior concentração nas mãos se deve ao motivo de serem elas extremidades para as quais converge a energia, espécie de canal natural de deslocamento.  De todos os plexos saem energia; principalmente do frontal, onde um cone se evidencia, ligando-se ao enfermo pelo mesmo centro de força.  Essa grande quantidade de energia faz com que os centros de força do enfermo adquiram mais brilho e velocidade.  O passista é nesse instante como imenso letreiro luminoso... (que coisa linda!)... A transmissão fluídica vai terminando com muitas estrelinhas, chuva fina saindo dos seus dedos azulados.”

Com essa transcrição enfocamos alguns aspectos do passe, sem a preocupação didática dos esquemas rígidos da pedagogia. Foi uma conversa informal com amigos, desses que são sempre bem-vindos, que podem andar descalços em nossa casa, que se alegram com nossa alegria, que nunca se afastam, mesmo estando do outro lado do planeta.  Assim são os amigos: distanciam-se sem afastamento.  Assim é a amizade.  Um eterno passe nos caminhos de neve, de chuva, de tormento, de paz... que é a vida.
Título :O Passe
Autor:Luiz Gonzaga Pinheiro
Fonte:Livro: Vinte Temas Espíritas Empolgantes


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Senhor, fazei de nós instrumentos da Vossa Paz